Imagem de um homem, para me representar, com uma mochila nas costas na cor preta, blusa na cor preta e calça jeans. Ele está em uma estrada abandonada em que, em ambos os lados, há árvores altas. Do lado esquerdo também há um posto de gasolina e, do lado direito, uma casinha abandonada.

Minha pequena jornada

Sempre fui sonhador. Já ouvi dizer que sonhar não nos leva a lugar algum. Ledo engano. Acredito naqueles que sustentam a tese de que sonhar impulsiona a vida e traz bem-estar. Sou um desses. Sonhar com os pés no chão, mas, às vezes, sonhar como se não existisse o mundo real. Sonhar, sonhar. Quando bem novinho, sei lá… acho que por volta dos seis anos – ou até antes -, criava histórias que só existiam no meu universo. Estudava em uma EMEI (escola pública de educação infantil) e, nos anos em que estive nessa escolinha, pensava histórias de príncipes e princesas, com o príncipe – eu! – combatendo ferozes dragões e soldados e, enfim, conquistando a donzela que era, geralmente, alguma coleguinha de sala vestida com sainhas drapeadas, camisetas brancas e tênis vermelhos dos quais não recordo o nome. Conga? Bem, claro, nas histórias usavam vestidos longos bonitos.

Nessa época e em muitas outras, deixava de lado a atenção às aulas, especialmente a partir da 1ª série do ensino fundamental, só para imaginar histórias. Minha mãe enlouqueceu comigo anos depois, quando já estava no ensino médio. “Aluno disperso” diziam os professores e as professoras.

Lá pelos oito ou nove anos, participei de uma espécie de concurso para leitores, já em outra instituição de ensino – uma EMEF (escola pública de ensino fundamental). Precisei ler um texto compatível com a idade e, como tarefa, tentar errar o menos possível. Não cheguei à final, mas o gosto pela leitura teve início ali, ACHO. Recordo de dois ou três anos após esse fato e, já na antiga quarta série, ir à biblioteca pegar algumas obras emprestadas. Entre elas “O Planeta Lilás”, de Ziraldo; “O Ônibus Musical”, de Ganymedes José Santos de Oliveira; e “Era Uma Vez Um Pirata”, cujo autor não sei quem é. Li, reli e agora, mais adulto, comprei os livros de Ziraldo e de Ganymedes.

Apego emocional com tempos passados?

Boa pergunta.

A introversão entra na vida

Mudei de escola entre a quarta e a quinta série, e o meu lado introvertido aflorou. Antes era conhecido e reconhecido na escola pública, mas no colégio novo, com novos amigos, o ambiente diferente atuou como um monstrengo do armário. As princesas que sonhava, quaisquer que fossem as coleguinhas, ficaram no reino distante; experimentei anos de escuridão interior, como se o lugar até então inexplorado fosse espécie de solitária de um presídio qualquer. No entanto nunca, nunca deixei de experimentar histórias, seja lendo ou escrevendo.

Com a opressão que me impus – uma bela merda! –, houve mudanças profundas: fiquei afastado dos livros e só recorria aos resumos para fazer as provas baseadas nos livros; comecei a consumir jogos eletrônicos, sendo Final Fantasy VII a grande paixão, e saía para jogar bola de vez em quando. O livro de que me recordo ter lido, da primeira à última página, acho que na 5ª ou 6ª série do fundamental, foi “O Poder Flutuante”, de Ivan Jaf – esse também tenho, comprei há alguns meses.

Os anos continuaram avançando e passei a ficar mais em casa, sem produzir algo útil. Foi no último ano do ensino médio, já entre os 17 e 18 anos, que tive nova prova do amor pela escrita: embora não gostasse das aulas de língua portuguesa e redação, tive pontuação elevadíssima na 1ª edição do ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio), especificamente na parte da redação, sendo a maior nota da sala entre os cerca de 30 alunos.

Pensa no orgulho e na fisionomia da professora, pois eu não ligava para os estudos. Infelizmente.

Música também é história

Com a vida adulta lambendo a cabeça, comecei a trabalhar para custear minhas coisas. Com dinheiro em mãos, poderia realizar sonhos, entre eles tocar bateria. A música também é um meio de vivenciar histórias narradas, seja você um tocador de instrumentos ou mero ouvinte. Histórias curtas, algumas longas, outras rápidas e cruas, pesadas ou leves, não importa.

A primeira banda que curti foi Legião Urbana, embora tenha vivenciado anos e anos ouvindo grupos de pagode e samba dos anos 1990, mas, a explosão pela música ocorreu com Rush, tempos depois. E, assim como dez entre dez bateristas que curte Rush, comecei a fazer aulas para tocar igual ao Neil Peart. Ou tentar.

Claro, não deu muito certo. Ele é o maior de todos, em minha modesta opinião.

As versões da vida adulta

Enquanto pensava em bateria, música, princesas do passado e tudo o que um pós-adolescente tem de direito, passei a ter contato com os livros escritos por Stephen King. Nessa época, digo lá pelos 20 ou 21 anos, já conhecia alguns filmes adaptados de suas obras, mas, consumir sua escrita visceral, empurrou-me a outro patamar. Se alguém me perguntasse qual era meu escritor preferido, a resposta seria fácil: Stephen King. História preferida? Alguma de Stephen King. Filme preferido? Algum adaptado de Stephen King. É.

Querendo ser um Stephen King brasileiro, o que deixo para outros nomes nacionais muito competentes como Raphael Montes e André Vianco, decidi participar de duas antologias de contos. Foi a primeira experiência de ler algo meu publicado em papel impresso por editora.

Hoje, sei que os contos ficaram horrorosos, mas, na época, os achei o máximo. Foi divertido, pois parece ter sido o pontapé que precisava para me arriscar mais. Sonhar. Voltar a sonhar.

Nesse meio tempo, entrei num longo relacionamento e, alguns anos depois, tive filhos: Clarissa e Vicente, meu casal de gêmeos. Acabei me afastando dos livros, pois, pouco antes de ter as crianças, tinha dois empregos – tipo Julius, de “Todo Mundo Odeia o Chris”. Nunca achei que fosse superar essa fase de dormir cerca de três horas por dia, trabalhar de 12 a 14 horas diárias e quase nunca ver o sol nascer ou se pôr.

Apesar do longo hiato, criar histórias e ler nunca morreram.

Após um casamento em que saí somente com as roupas do corpo, uma máquina de sucos e uma cafeteira que devolvi para minha ex-mulher a contragosto, ela acabou deixando seu Kindle comigo. Em princípio o neguei, mesmo estando com ele nas mãos. Talvez um pouco radical demais, pois sou da velha guarda que gosta do peso do livro, do cheiro e da textura do papel.

No entanto, o Kindle, para ler entre os balanços do transporte público, entre as idas e vindas para e de ao trabalho, mostrou-se a melhor escolha.

Arrisquei outros autores além de Stephen King já um pouco mais velho, com cerca de 33, 34 anos. Passei a ler Arthur C. Clarke, Iain Reid, Salman Rushdie, João Anzanello Carrascoza, Aravind Adiga, Raphael Montes, Daniel Galera e muitos e muitos outros. A lista passou a ficar bem maior. E, assim, ganhei melhor repertório de conhecimento e de escrita.

O amor é a chave

Motivado pelo maior amor que senti na vida no quesito amor e mulher, dei à luz Ellen. Gosto de dizer que Ellen levou cerca de seis a sete anos para ser feito, pois, embora o relacionamento tenha perdurado somente por seis meses, nos seis ou sete anos seguintes vivenciei o luto pelo término, sem deixar de pensar nela por um único dia. Escrever foi a parte mais fácil ou, dependendo do ponto de vista, a mais difícil.

Hoje, continuo sonhando histórias e assim continuarei até o final. Este é o meu propósito. Acredito que todos nós, de maneiras particulares, somos bons contadores de histórias. Nem sempre haverá grande volume de apreciadores, mas, em algum momento, terá uma pessoa que se identifique com você, com o que escreveu.

E, se você deseja conhecer a primeira história que publiquei, confira o livro Ellen, lançado pela Giostri, em outubro de 2023. 🙂

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